Capítulo 3 - A Explicação


    (...)

    Depois de tamanha desfeita prometi a mim mesmo que ela iria se arrepender.
    Ela ouviria poucas e boas logo de manhã quando saísse pra trabalhar.
    Acordei atrasado e ela já tinha ido.

    À noite, ela não escaparia!
    Fiquei a esperando no mesmo horário de sempre.
    Ela chegou exatamente na hora que previ, mas algo estava diferente...
    Em vez de uma feição firme e impenetrável, seu olhar estava frágil e alterado.
    Vi suas lágrimas caírem enquanto seu rosto se avermelhava.
    Toda a imagem de mulher forte e malcriada deu lugar a uma imagem de mulher vulnerável e confusa.
    Quis segui-la e perguntar sobre o que havia acontecido, mas percebi que tudo que ela queria era ficar sozinha.
    Cheguei até a me aproximar da porta, mas recuei antes que piorasse as coisas.
    Toda a raiva que sentia dela transformou-se em compaixão.
    Lembrei-me das crises que minha mãe tinha e não consegui pregar o olho naquela noite.
    Decidi que logo cedo iria ver como ela estava.

    Foi o que fiz, tinha que entregar alguns jornais para o zelador e aproveitaria para passar no apartamento de Mariana.
    Chamei umas cinco vezes e, nada.
    Comecei a ficar preocupado; naquele instante senti o mesmo medo que senti quando em algumas vezes  minha mãe havia tentado suicídio.
    Resolvi abrir um pouco a porta, estranhamente ela estava apenas encostada.
   Já eram 8:30 da manhã, ela estava atrasada para o trabalho.
    Entrei devagar chamando por seu nome, até que a encontrei no sofá, desmaiada.
    Aconteceu o que eu temia.
    Controlei minhas emoções e sabia que o desespero não ajudaria.
    Liguei para um amigo no hospital e chamei a ambulância.
    Ela ainda estava viva.

    O coma durou três dias, pra mim pareceu a eternidade.
    Meu amigo cuidaria dela, mas como eu queria fazer alguma coisa!
    Horário de visitas, ninguém a procurava.
    Não sabia nada de sua família, não sabia nada de sua vida.
    Decidi que eu seria tudo o que ela teria, pelo menos naquele instante eu seria tudo, assim como tudo pra mim naquele instante seria ela.

    Soube de sua alta, ela estava bem e recuperada.
    Não quis buscá-la; não queria assustá-la; mas providenciei tudo pra que ela chegasse em casa bem.
    Quando a vi em minha casa, quase a abracei de alegria, mas preferi não fazê-lo.
    Cássia já sabia da história e dividiu comigo a alegria.
    Conversávamos sempre, nos tornamos amigos.
    Depois de tudo Mariana estava diferente. Eu a amava de uma forma especial.
    Mas não queria confundir as coisas. Tudo estava bom já daquele jeito, não precisava mexer.

    Ela me falou da viagem, eu fiquei feliz por ela, mas acho que nem pude expressar isso, pois outra coisa passou a me preocupar.

    (...)

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