Capítulo 2 - A solitária intrigante


    (...)

    Desde que me entendo por gente moro nesse condomínio.
    Alguns apartamentos eram alugados periodicamente e em meu andar havia um vago.
    Foi pra onde Mariana mudou-se.

    Ela trouxe poucas coisas como mudança. Estranhei isso, vindo de uma mulher.
    Mas ela não era como as outras, ela trazia uma tristeza no olhar que desde o princípio me chamou atenção.

    Resolvi me oferecer pra ajudar a montar algo, seu marido provavelmente estava trabalhando.
    Descobri que ela não estava mais casada.
    Lembro de como ela estava vestida: bermuda velha, camiseta branca e cabelos presos.
    Nenhuma bijuteria, exceto um colar com duas alianças penduradas.
    Sua expressão firme e de poucos amigos mostrou-me que não queria minha ajuda, muito menos minha companhia.
    Mas eu era persistente e não desistiria tão fácil.

    Você pode achar que por uma mulher como ela não valeria a pena o esforço.
    - Espera aí, como assim “uma mulher como eu”? Explique-me isso direito. - primeira interrupção.
    - Desarrumada e mal educada, oras. - respondi sem perceber com quem estava falando. - Ei, você não deveria estar viajando Mariana?
    - E estou. Mas nem por isso vou me desligar de minha história! - estava indignada a intrometida.
    - Da licença, essa é minha vez de contar minha versão dos fatos.
    - É, pode ser. Mas pega leve nas descrições!
    - Ah... Volte a se concentrar em sua viagem, bye bye!
    - Eu continuo de olho. -advertiu


    SEGUNDA TOMADA

    Continuando...

    Pessoas como Mariana me intrigavam e confesso que apesar de tudo ela sempre foi bonita.
    - Ah, agora melhorou! - segunda interrupção.
    - MARIANA!
    - Tá, tá, estou saindo!


    TERCEIRA TOMADA

    Foram meses levando foras e outros de indiferença.
    Ela era dura na queda.
    Nem o S. Pedro, dono do mercado em que ela trabalhava, sabia alguma coisa daquela mulher!

    Dias passaram e passei a ajudar o zelador, seu Antônio, a entregar os jornais; ela sempre os lia.
    Era minha chance!

    Numa sexta a vi chegar do trabalho, corri a seu encontro.
    - Oi vizinha... É Mariana seu nome, não é? - puxei assunto.
    - Depende. O que você quer? - disse seca, como sempre.
    - Eu vim entregar-lhe o jornal. - era minha desculpa.
    - E por que não deixou em minha porta como em todas as outras? – “Ou essa mulher é burra ou finge ser assim”, pensei.
    - Porque eu quis ver e falar com você... Posso, ‘Miss Incomunicável’? - Nem acreditei que tinha sido tão direto. Pelo menos foi engraçado vê-la sem ação e sem uma resposta pronta.
    - Então tá. - titubeou. - Você já me viu, já falou comigo e acaba de me ofender. Satisfeito? Me dá o jornal e me deixe descansar. – “Por que eu a deixeiela pensar?”, pensei de novo.

    Ainda tentando impedi-la de entrar, argumentei:
    - Descansar numa sexta linda como essa?
    - Pra mim é como qualquer outra sexta feira. - outro fora.
    - Então a torne diferente, jante comigo essa noite. Tem um restaurante aqui perto que prepara uma macarronada divina. - Ela me olhou como se detestasse macarronada. - Tem também salada se você preferir. - Insisti, esperando um grande e redondo não.
    - Se for pra você me deixar em paz... - vibrei!
    - Te busco ás 20:30, combinado? - nem estava acreditando.
    - É melhor você me esperar lá.

    Ela devia ter me dito pra esperar sentado.
    Foram as três horas mais longas de minha vida.
    Nunca havia levado um bolo tão grande como aquele.

    (...)

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