Capítulo 7 - Suposto Fim


   (...)

    O tempo passou rápido pra mim, mas a expressão de Carlos dizia que pra ele, não.
    Ele fazia pose de conformado, mas quem o conhecia sabia que ele ainda estava muito triste.
    Não havia voltado ainda pra faculdade, estava de férias do trabalho, tinha deixado alguns Hobbies de lado.
    Eu não sabia se o entendia ou se ficava com raiva em vê-lo daquele jeito.

    Insisti que ele me acompanhasse numa entrevista.
    Quem sabe um passeio pelo litoral o animaria e agente poderia conversar.
    O dia estava lindo: o céu azul, nenhuma nuvem pra atrapalhar.
    Nós estávamos sentados no calçadão.
    O silêncio de nossos lábios parecia uma terceira pessoa nos separando de uma ótima conversa.

    - Quando quiser, podemos ir. - quebrei o silêncio.
    - Está bem. - respondeu-me automaticamente.
    Mais tempo calados. Nem ver as crianças brincando nos contagiava.

    - Como foi a entrevista? - perguntou educadamente.
    - É, acho que foi boa. - respondi sem nenhum entusiasmo. - Eu entendo o que você sente. - ousei continuar. - Mas nem ela gostaria de vê-lo desse jeito. Eu não gosto.
    - Mas o que eu posso fazer? - continuava com o olhar perdido no horizonte aos meus olhos desconhecidos.
    - Voltar, sair, sei lá, continuar. – ele olhou-me como se tudo que eu dissesse fosse incompreensível.
    - Você realmente não entende.
    - Sim, tem muitas coisas em você que eu não entendo. Eu sei que só quem passa sabe, mas não me culpe por não tentar.
    - Talvez eu deva dar um fim a isso. - afirmou pensativo.
    - É.- Disse eu, ao me levantar. - Talvez você queira ficar sozinho, quem sabe é melhor ficarmos sozinhos. - fui me retirando aos poucos, conformada com o fim de algo sem começo.
    - Mas porque não juntos? - interrompeu minha partida. - Era verdade o que você disse, ou você só estava desesperada?
    - Eu não estava desesperada! - me virei irritada.
    - E como se chama alguém que fala com um túmulo?
    - Ah! É disso que você está falando. - sentei-me novamente. - Eu fui sincera todo o tempo. - confessei.
    - Então é melhor darmos um fim a isso.
    - Se é o que você quer...
    - Mas dessa vez quero ser outro personagem.
    - Exatamente de que você está falando? - estava confusa. “Personagem?”.
    - Não é você quem diz que o fim de uma história é nada mais do que o começo de outra? E não era só em minha mãe em quem eu pensei esses dias. - não ousei perguntar em quem.
    Esbocei um sorriso bobo.

    - Que personagem você quer ser agora? - entrei na pilha, ignorando a última sentença, era difícil voltar a falar sobre aquele assunto.
    - Em vez de dar uma parte de meu coração a você, quero ter outra função. –continuou.
    - Hum, diga qual?
    - Quero ser não só parte, quero sê-lo inteiro. Quero ser aquele que tu achavas ter perdido, quero ser aquele que sempre está contigo, mesmo que tímido e discreto bombeie teu sangue de modo imperceptível.
    - Uau! De onde você tirou isso? - brinquei pra disfarçar o nervoso.
    - Você não esperava, não é? - sorriu, mas logo voltou a seu tom mais sério. - Se um dia você achou que não existi, ou que nunca estive em você alimentando sua vida, foi porque tinha medo de me tornar tão visível a teus olhos a ponto de expor minhas falhas que te afastariam e que talvez te fizesses desejar nunca me ter em seu peito.
    - Hum... Como poderemos começar essa nova história, a sinopse me atrai. - fiz cara de empresária de uma grande editora, como se aquilo não tivesse nada a ver comigo.
    - Quero que você comece, se essa for sua vontade.



    
    Um fim de uma história não é nada mais do que um começo de outra

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