Capítulo 5 - Um Real Primeiro Encontro


   (...)

    Eu nunca tinha reparado nos apartamentos ao meu redor.
    Não que eu não os visse, eu apenas os ignorava, como eu fiz com pessoas como o seu Jorge...

    Senti um grande remorso, então me dirigi ao apartamento de Carlos.
    Muitas vezes ele tentou me convidar pra sair, mas acho que nunca lhe dei idéia, e pelo que lembre, ele não era nada feio, e... Médico? Interessante...

    Vi-me diante ao apartamento 202 arrumando o cabelo e passando gloss nos lábios.
    Preparada, apertei a companhia.
    Dona Maria atendeu. Surpreendeu-se, mas foi simpática. Conversamos um pouco, provei um delicioso bolo de laranja...
    - Enfim, minha querida, em que posso ajudá-la. - perguntou amavelmente.
    - Gostaria de falar com seu filho, ele está?
    - Ah, o Carlinhos saiu com a nova namorada...
    O termo “namorada” caiu como uma bomba em minha concepção. Eu estava totalmente errada quanto às intenções de Carlos. Ninguém merece, eu dando uma de adolescente, 27 anos na cara...
    - Ah, sei... Eu só queria agradecê-lo, mas já que ele não está, acho que já vou, eu...
    - Mas ele não vai demorar; hoje ele não tem estágio. Espera mais um pouco!
    - Obrigada, mas preciso ir agora – disse, levantando-me toda sem graça.

    Nesse instante, Carlos chega com a tal namorada.
    Não sabia aonde enfiar a cara.
    - Oi! Como você está? Tentei vê-la ontem, mas não consegui. Olha, Cássia, essa é a Mariana.
    “A homicida”, pensei.
    - Prazer, sou Cássia.
    - Prazer... - nunca estive tão sem graça. – Olha, eu vim agradecer-lhe por ter me levado ao hospital, eu... Eu irei pagá-lo... – disse, indo em direção a porta. – Obrigada, novamente, e até breve. Foi um prazer, adeus...

    Foi maravilhoso estar dentro de casa novamente, principalmente depois daquilo.
    Logo esqueceriam, ou talvez nem tenham se dado conta de meu incômodo.
    Porém, meu alívio foi pouco. Meia hora depois tocam a companhia.
    Era Carlos.
    Dessa vez, sozinho.
    Pensei em ignorá-lo, mas não devia. 

    Abri e não o deixei entrar; saí e fechei a porta atrás de mim.
    - Posso ajudá-lo? – disse, cinicamente, como se ele me devesse algo, como uma explicação.
    - Me perdoe, Mariana, eu... - parecia estar escolhendo palavras.
    - Você...
    - Eu a tenho observado a algum tempo. Tenho uma certa curiosidade por pessoas como você.
    - Como eu?
    - É, pessoas misteriosas, reservadas e...
    - Mal educadas. É, eu sei, me desculpe, você sempre foi bem simpático, eu até pensei que...
    - Que eu gostava de você?
    - É, pode se resumir assim.
    - Olha é difícil me atrair por quem mal conheço, mas como já disse, algo em você me chamou atenção. 

    Sorriu. Não sei como, eu estava totalmente tensa.
     - Alguns amigos me dizem para parar de ler aqueles livros de psiquiatria, mas eu não consigo, a mente humana me fascina.
    Perguntei-me como ele foi capaz de mudar tão bem de assunto.
    - Que bom.
    - Mas, voltando ao assunto, eu...
    - Como me encontrou?
    - Eu a vi chegar naquela sexta um tanto abalada, fiquei preocupado. Pois diferente da indiferença que você transmitia normalmente, eu percebi uma alteração a mais. Pela manhã não a vi sair pra trabalhar e, quando fui entregar os jornais para o zelador, eu notei que a porta estava encostada. Chamei seu nome, mas não houve resposta. Entrei e a vi deitada no sofá. Tentei reanimá-la, mas em vão. Daí, a levei para o hospital. Perdoe-me a indiscrição e o furo de sua privacidade.
    - Tudo bem, eu... Eu agradeço.

    Tinha me esquecido de fechar a porta...
    Meu Deus, obrigada!
    Estava explicada a incógnita.

    (...)
 

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