Capítulo 2 - Um Passado Pouco Distante, Um Presente Ausente


    (...)

    Obedeci à sugestão e abri os olhos.
    Minha visão:
    Resumidamente um quarto de hospital.

    "Quem me trouxe aqui?", pensei.
    Eu morava sozinha, não tinha empregada. Tudo que tinha era um peixinho belga, solitário como eu.
    Trabalhava como caixa de um mercadinho próximo e não era muito de amigos.

    Quando mamãe soube que teria mais um filho, ficou feliz, mas não era o que esperava.
    Meus pais estavam prestes a separar-se quando nasci e, por mim, isso não aconteceu.
    Não naquele momento.
    Às vezes, achava que seria melhor se tivesse acontecido, pois ambos eram infelizes.
    Meu pai infiel só chegava depois das 2 da manhã. Quanto à minha mãe, se matava de trabalhar para nos sustentar enquanto minha irmã mais velha vivia no seu mundo de rebeldia. E eu ajudava mamãe.
    Quantas vezes um tapa direcionado a minha irmã, atingia meu rosto...
    Eu sabia não ser a primeira a passar por aquilo, mas mesmo assim doía.
    Eu fingia ser feliz, e às vezes era.

    Quando minha mãe me dava uns trocados, eu os usava para ir caminhar na praia.
    Conheci algumas crianças bondosas que brincavam comigo naqueles dias.
    Admirava a alegria daquelas famílias.

    Quando conheci Lucas, as coisas pareciam mudar...
    Estava preste a terminar o segundo grau quando nós decidimos nos casar.
    Eu era uma garota inteligente e ele, sincero, pelo menos naquela época.
    Eu tinha o poder de mudar minha trajetória e queria com todas minhas forças fazer isso.
    Fomos felizes pelos dois primeiros anos.

    Até que minha mãe faleceu.
    Meu mundo caiu.
    Lucas não conseguiu compreender minhas crises e me deixou um ano depois.

    Ouvi dizer que ele está bem e montou uma linda família.
    Não o culpo de nada.

    Resolvi me mudar daquele lugar e saí sem destino: consegui meu emprego nessa cidade grande, aluguei um apartamento num prédio humilde e segui a vida.
    As pessoas sempre me encararam como uma estranha egoísta, talvez por que eu nem lhes dirigia um bom dia.
    Seu Pedro era piedoso e por isso me deu o emprego. Quanto aos outros só me julgavam ou faziam mexericos.
    Existia um vizinho meio fofoqueiro que sempre queria saber das minhas coisas, nunca dei ideia pra ele.
    A mãe dele era da mesma laia. Não sei como existem pessoas assim!

    - Olha quem está acordada! - disse um homem que me pareceu ser o médico.
    Enfim vou saber como vim parar aqui!

    (...)

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