(...)
Sempre acreditei que no mundo existiam dois tipos de pessoas: os racionais e os emocionais.
Depois descobri em mim um terceiro tipo - aqueles que apenas fingem ser um dos dois.
Enquanto fechei-me para o mundo, eu esperava que alguém se interessasse em tentar me decifrar.
Pode parecer estranho um desconhecido fazer isso, mas aconteceu comigo.
Carlos faz parte dum quarto tipo de pessoa: os equilibrados.
Esses são sensíveis como os emocionais e fortes como os racionais, era o que sempre quis ser. Diante disso apeguei-me cada vez mais fortemente a meu novo amigo.
Os chamados “sintomas platônicos” sumiram aos poucos. Toda a secura na garganta, o suor nas mãos e tudo mais deram lugar a uma sensação de bem estar e confiança.
Às vezes, a teimosia dele me irritava, mas em outras, me ensinava a ser perseverante.
Cássia também era muito bondosa e amável, começamos juntas num curso intensivo de línguas. Era quase um hobbie.
Tudo corria dentro do controle, até que algo estranho pareceu ameaçar toda aquela paz.
Certo dia, ao voltar para o trabalho depois do almoço vi algo que não desejava ter visto.
Cássia estava de mãos dadas com um rapaz, mas não era Carlos.
Aproximei-me para ter certeza de que era ela mesmo. Acabei presenciando um beijo.
Não tive coragem de falar com ela, estava confusa e não entendi o que se passava.
Depois de pensar naquela cena a tarde inteira, percebi que era importante ser sincera com meu amigo.
Fomos jantar naquela noite.
Ele estava de folga do estágio, então poderíamos conversar à vontade.
No principio, resolvi falar de outras coisas, estava um tanto desconfortável com aquilo.
Ele percebeu meu desconforto, fazia pouco tempo que éramos amigos, mas como o tempo de uma amizade nunca se conta, ele já me conhecia bem.
- Você viu o quê?! - perguntou um tanto pasmo, depois de contar o acontecido.
- Foi o que você ouviu. - Minha voz ficava cada vez mais baixa.
- Traíra!!! - expressou-se com um leve sorriso.
Fiquei mais confusa ainda. Já ouvi falar de namoros liberais, mas nunca concordei com estes e, ao meu ver, não fazia o estilo de Carlos.
- Ela podia ter me contado! - continuou. – Mariana, me prometa que se você arranjar alguém, vai me contar primeiro.
- Não estou entendendo.
- O quê?
- Como o quê? Sua namorada está com outro e você apenas decepciona-se como o fato dela não ter te confidenciado esse “babado”? - estava indignada, a reação dele fugia a minha concepção.
- Namorada? Você acha que eu e Cássia somos namorados?
- Foi o que sua mãe disse... E vocês sempre estão juntos.
- Não seria pelo fato de estudarmos juntos, de sermos amigos de infância? Um homem não pode estar com uma mulher sem estar apaixonado por ela ou ela por ele?
- Mas... e quanto ao que sua mãe disse?
- Dona Maria sempre quis Cássia como nora e, visto que estávamos sempre juntos, ela concluiu isso. Uma vez até tentamos, mas descobrimos que o que sentimos é só amizade.
Percebi que havia me precipitado em conclusões, senti meu rosto esquentar e quando isso acontece logo fico vermelha.
- Desculpe-me, eu...
- Tudo bem, obrigado por se preocupar em me dizer. Não precisa ficar envergonhada. - sorriu.
Depois disso ambos ficamos um tanto pensativos, a conta chegou e continuávamos calados.
No ônibus achamos apenas lugares separados, ele sentou-se a frente e eu na outra fileira um pouco mais atrás.
De vez em quando ele olhava em minha direção, sorria e voltava a olhar pra frente.
- Acho que ele gosta de você... - disse uma velhinha ao nos observar.
“Acho que eu também gosto dele”, pensei.
(...)
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